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quinta-feira, 23 de abril de 2020

Cujo o livro ou cujo livro?

Em cujo seio, e não em cujo o seio... Esse o é descabido. O relativo cujo traduz a ideia de posse do genitivo latino cuius. Sendo assim, só se deve empregar com essa ideia de posse. 
O povo em regra não sabe usar o relativo cujo corretamente, mas ideia de posse que ele encerra, esse mesmo povo expõe em torneios sintáticos defeituosos. Um período como este: Vi o rapaz em cuja casa estivemos, sairia da boca do povo assim: Vi o rapaz que estivemos na casa dele
O relativo cujo vem sempre acompanhado de antecedente ou de consequente; concorda sempre em gênero e número com o consequente. Faltando tais elementos, a frase é defeituosa.
O rapaz cujo vi estava raivoso - trecho incorreto. Quem não percebe que o cujo está ocupando o lugar do relativo que?
Raramente se usa hoje o relativo cujo em textos assim: 

  • "Falei então da confusão da minha alma, e devia dizer em que é que ela consistia, e cuja era a causa." (M. de Assis: A semana, III, 441.). 
  • "Assim atarão os judeus em Jerusalém ao varão cuja é esta cinta..." (A.P. de Figueiredo: BÍBLIA SAGRADA, Atos, 21:11.) 
  • "E cujo é esse nome?" (Herculano: O Bobo, 183.). 
O relativo em apreço pode vir regido de preposição: 
  • "Perfeitamente ensaiados, graças aos esforços do Sr. Jerônimo Martinez, de cuja proficiência musical é inútil dar notícias aos leitores..." (M. de Assis: Crônicas, II, 17.). 
  • "A Folha do Pará em obrigação de verificar a notícia e informar os seus leitores, em cujo número estou." (Id. ib., III, 35.)

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Demais, ademais, ou ao demais

Podemos dizer, indiferentemente: demais, ademais, ao demais. Significam: além disso. 
Provas: 
  • "Demais, a emoção da madrasta era significativa." (M. de Assis: Iaiá Garcia, pp. 162-163).
  • "Ademais, que desejam eles com esses reparos?" (Otelo de Souza Reis: Análise Léxica, p. 21) .
  • "Ao demais, a injúria produzida a reação de amor..." (M. de Assis: Iaiá Garcia, p. 220). 

Me faça um favor ou faça-me um favor?

Em linguagem literária não se deve começar um período com variação pronominal átona. Tolerá-se a dissínclise (má colocação) na linguagem doméstica e na poesia. Sabemos que escritores modernistas gostam de estampar o pronome no rosto da proposição; mas eles não podem servir de padrão de vernaculidade. Respondendo a um consulente que o interroga a respeito da posição do pronome oblíquo átono no começo da sentença, assim se expressa José de Sá Nunes: "É solecismo empregar-se o pronome oblíquo átono no começo do período. Não duvido, porém, de que mais tarde, daqui a meio século, talvez, o uso popular do Brasil consiga enobrecer tal colocação pronominal" (aprendei, II, 117.)